PERCEPÇÕES DAS CRIANÇAS SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS DE JOGO E DE BRINCADEIRA NA ESCOLA: O CASO DE UMA TURMA DE 1º ANO
Resumo
Este artigo decorre de uma investigação desenvolvida no âmbito do Doutoramento em Estudos da Criança, especialidade de Educação Física, Lazer e Recreação da Universidade do Minho, com crianças, professores e funcionários de uma turma de primeiro ano do 1º CEB em uma escola pública portuguesa. O recorte aqui apresentado objetiva conhecer em profundidade as perceções e participações das crianças no que diz respeito as suas vivencias lúdicas em rotinas escolares, que podem se estender por até dez horas diárias, cinco dias por semana, durante o ano letivo. A metodologia utilizada foi de entrevistas com dois grupos focais e observações no ambiente escolar durante o terceiro período letivo. Dentre as constatações do estudo destacamos: Jogos e brincadeiras, especialmente ao ar livre, aparecem como vivências essenciais e valorizadas pelas crianças. Buscam elementos naturais, como galhos e pedaços de cascas de árvore, escolhidos como suportes lúdicos, a revelia das restrições de acesso e contato com o meio ambiente. Estereótipos de género e étnicos estão presentes nas interações entre pares, condicionam escolhas, participações nos jogos e brincadeiras, bem como o uso prioritário dos espaços físicos do pátio por um dos géneros. Em sala de aula, iniciativas infantis autorais subvertem, discretamente, o código normativo que determina o trabalho individual e silencioso, agregando-lhe um componente lúdico e de mobilidade corporal. Esse esforço não é opositivo ao “trabalho escolar”, com o qual há inequívoco comprometimento individual e coletivo, todavia mantém-se desconhecida dos adultos a notável competência infantil para conjugar ofícios, de criança e de aluno. As crianças lamentam por não terem aulas de Educação Física, substituídas por decisão da professora de turma. Evocam e atualizam, com recursos a elementos reais e ficcionais, situações de jogo e de brincadeira vivenciadas no pátio, sob a orientação docente. Ao fazerem-no preservam a esperança/expetativa de um protagonismo lúdico indissociável da sua forma de ser e estar. No contexto, espelho de macro tendências, há resistências às especificidades sociais geracionais das crianças, portanto à participação infantil. As conclusões do estudo apontam para a necessidade de questionar-se esse modelo de escolarização desinteressado das crianças concretas e esvaziado do seu indispensável contributo.
Palavras-chave
Educação Escolar; Jogo e Brincadeira; Participação Infantil
Texto Completo:
PDFDOI: https://doi.org/10.46691/es.v0i0192
Apontadores
- Não há apontadores.