PERCEPÇÕES DAS CRIANÇAS SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS DE JOGO E DE BRINCADEIRA NA ESCOLA: O CASO DE UMA TURMA DE 1º ANO

Rosana Coronetti Farenzena, Beatriz Oliveira Pereira

Resumo


Este artigo decorre de uma investigação desenvolvida no âmbito do Doutoramento em Estudos da Criança, especialidade de Educação Física, Lazer e Recreação da Universidade do Minho, com crianças, professores e funcionários de uma turma de primeiro ano do 1º CEB em uma escola pública portuguesa. O recorte aqui apresentado objetiva conhecer em profundidade as perceções e participações das crianças no que diz respeito as suas vivencias lúdicas em rotinas escolares, que podem se estender por até dez horas diárias, cinco dias por semana, durante o ano letivo. A metodologia utilizada foi de entrevistas com dois grupos focais e observações no ambiente escolar durante o terceiro período letivo. Dentre as constatações do estudo destacamos: Jogos e brincadeiras, especialmente ao ar livre, aparecem como vivências essenciais e valorizadas pelas crianças. Buscam elementos naturais, como galhos e pedaços de cascas de árvore, escolhidos como suportes lúdicos, a revelia das restrições de acesso e contato com o meio ambiente. Estereótipos de género e étnicos estão presentes nas interações entre pares, condicionam escolhas, participações nos jogos e brincadeiras, bem como o uso prioritário dos espaços físicos do pátio por um dos géneros. Em sala de aula, iniciativas infantis autorais subvertem, discretamente, o código normativo que determina o trabalho individual e silencioso, agregando-lhe um componente lúdico e de mobilidade corporal. Esse esforço não é opositivo ao “trabalho escolar”, com o qual há inequívoco comprometimento individual e coletivo, todavia mantém-se desconhecida dos adultos a notável competência infantil para conjugar ofícios, de criança e de aluno. As crianças lamentam por não terem aulas de Educação Física, substituídas por decisão da professora de turma. Evocam e atualizam, com recursos a elementos reais e ficcionais, situações de jogo e de brincadeira vivenciadas no pátio, sob a orientação docente. Ao fazerem-no preservam a esperança/expetativa de um protagonismo lúdico indissociável da sua forma de ser e estar. No contexto, espelho de macro tendências, há resistências às especificidades sociais geracionais das crianças, portanto à participação infantil. As conclusões do estudo apontam para a necessidade de questionar-se esse modelo de escolarização desinteressado das crianças concretas e esvaziado do seu indispensável contributo.

Palavras-chave


Educação Escolar; Jogo e Brincadeira; Participação Infantil

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DOI: https://doi.org/10.46691/es.v0i0192

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